benjamin, brecht e antropologia

fragmentos em busca de uma antropologia dos gestos

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11.8.12

TEATRO DE RUA



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palavras iniciais

Se o trabalho etnográfico pode ser visto como um longo percurso que leva o antropólogo da observação de gestos realizados por atores sociais ao assentamento de um texto que tenta dar sentido a toda esta gesticulação observada em campo, em que medida o leitor de textos etnográficos seria capaz de retraçar o caminho de volta, e encontrar na letra morta do texto a vivacidade dos gestos que o motivou? Se o texto etnográfico é a tentativa de interpretação de gestos sociais, em que medida um "gesto performático" pode se configurar como a interpretação de um texto não só etnográfico, mas também filosófico e literário? Nos interstícios onde se debruam franjas do teatro e da antropologia, os fragmentos aqui apresentados são o resultado do esforço coletivo dos participantes que passam pela disciplina Benjamin, Brecht e antropologia, oferecida pelo departamento de antropologia da Universidade de São Paulo, na busca por esta estranha hermenêutica: do gesto ao texto e de volta, ou vice-versa, de que maneiras texto e gesto se imbricam e se interpretam mutuamente?

origem e destinos

Este blog surgiu em 2008, junto à disciplina de que é homônimo e germano [Benjamin, Brecht e antropologia], na tentativa de responder a uma dupla urgência que se apresentava naquele momento: por um lado o desejo do professor em registrar os experimentos de teatro-seminário [TS] que estavam sendo propostos ali pela primeira vez e, por outro, como um meio para que os alunos participantes da disciplina pudessem compartilhar entre si suas experiências com os TS’s e o modo de contá-las, pela publicação imediata dos relatos de cena escritos por cada um dos grupos, nos dois turnos, a partir de suas apresentações feitas em sala de aula. Adicionalmente, procurava oferecer também algumas informações que pudessem amparar esta busca por uma antropologia dos gestos, poderia dizer, tanto na montagem e apresentação dos TS’s como da CENA DE RUA que se propõe a cada aluno como trabalho final. Nesse sentido, as possibilidades técnicas e operacionais oferecidas por um blog, sobretudo a facilidade de sua manipulação e os recursos multimídia disponíveis ali, pareciam responder adequadamente tanto a necessidade de se registrar estes experimentos oscilantes entre texto e corpo que parecem ser os TS’s como a vontade de congregar as meras vivências transcorridas na rotina de elaboração das cenas e sua apresentação pelos grupos em uma experiência sintética e comunicável, pelo seu progressivo e constante compartilhamento entre aqueles que contam [com] esta experiência, tal como parecem sugerir Victor Turner e Walter Benjamin em suas afinidades críticas.Quando se propõe como modo de expressão para uma experiência coletiva com vistas ao desenvolvimento de uma antropologia dos gestos, tecida por meio de pequenos fragmentos de textos surgidos da rigorosa alternância entre o 'agir e o escrever', o blog também tem a pretensão de exercitar seus participantes em certas habilidades que parecem fundamentais no desenvolvimento de uma etnografia benjaminiana, um dos objetivos propostos pela disciplina. Ao lançar mão de um sistema de escrita de configuração mais variável [uma escrita viso-verbo-sonora que possa substituir a caneta pela máquina de escrever e assim colocar a inervação dos dedos que comandam a escritura no lugar da mão cursiva], ele não só quer oferecer aos seus participantes algo daquele exercício tátil da percepção capaz de tornar o gigantesco aparelho técnico emancipado - fetichizado, reificado - de nossa sociedade inervações do próprio corpo humano, em termos benjaminianos, ou sua extensão mecânica, diria Marcel Mauss, como também propõe o desenvolvimento de uma forma de escrita fragmentária, não-sequencial, aberta, a ser cultivada no interior de formas modestas de escrita, quiçá mais adequadas ao quadro de fragmentação e esfacelamento das relações sociais característicos do mundo moderno, como sugere Benjamin, e que encontraria nos procedimentos da colagem surrealista e da montagem cinematográfica sua pedra de toque. O exercício de tais habilidades, queremos crer, não só são desejáveis para o desenvolvimento de uma antropologia benjaminiana, como também podem oferecer a possibilidade de uma experiência corpórea daquilo que nos textos desse autor, interessante também para fazer pensar a antropologia e seus antropólogos, vem formulado teoricamente: a "tatibilidade" do inconsciente social, suas dimensões sensíveis, ou esquecidas; a dialética da embriaguez dos 'iluminados profanos', sua corporeidade; a flânerie como método de investigação e modelo de interpretação das grandes cidades e de seus personagens, seu mapa sentimental; etc...

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glossário

communitas: 1. "um relacionamento não estruturado que muitas vezes se desenvolve entre liminares. É um relacionamento entre indivíduos concretos, históricos, idiossincráticos. Esses indivíduos não estão segmentados em funções e 'status' mas encaram-se como seres humanos totais" [Victor Turner]

flanar: 1. passear ociosamente, sem objetivo ou direção certa, entregue à impressão e ao espetáculo momentâneo [Larousse, Robert].

flânerie: 1. "ação ou hábito de flanar" [Robert]; 2. "[série de] atividades de observação (incluindo a escuta), leitura (da vida metropolitana e dos textos) e produção de textos [...] em outras palavras, pode ser associada a uma forma de olhar, de observar (pessoas, tipos sociais, contextos sociais e constelações); uma forma de ler a cidade e sua população (suas imagens espaciais, sua arquitetura, suas configurações humanas); e uma forma de ler textos escritos (no caso de Benjamin, tanto a cidade quanto o século XIX - como textos e de textos sobre a cidade, mesmos textos como labirintos urbanos). O flâneur, e a atividade da flânerie, é também associado, no trabalho de Benjamin, não meramente à observação e à leitura, mas também a produção - à produção de tipos distintivos de textos. O flâneur pode, portanto, ser mais do que simplesmente um observador, ou mesmo um decifrador, ele pode ser também um produtor" [David Frisby]

gestus social: 1. "um complexo de gestos, de mímica e de enunciados que uma ou mais pessoas dirigem a uma ou mais pessoas" [Anatol Rosenfeld]; 2. "um gesto, ou um conjunto de gestos (mas nunca uma gesticulação), onde se pode ler uma situação social completa. Nem todos os gestus são sociais: não há nada de social nos movimentos que faz um homem para se desembaraçar de uma mosca; mas, se este mesmo homem, mal vestido, luta contra cães de guarda, o gestus torna-se social [...] Até onde se podem encontrar gestus sociais? Até muito longe: até na própria língua. Uma língua pode ser gestual, diz Brecht, quando indica certas atitudes que o homem que fala adota em relação aos outros: ‘Se o teu olho te faz sofrer, arranca-o’ é mais gestual do que ‘Arranca o olho que te faz sofrer’, porque a ordem da frase, o assíndeto que a domina, remetem para uma situação profética e vingativa. As formas retóricas podem pois ser gestuais, pelo que é pois vão censurar à arte de Eisenstein (como à de Brecht) o fato de serem ‘formalizantes’ ou ‘estéticas’: a forma, a estética, a retórica, podem ser socialmente responsáveis, se forem manejadas de uma forma deliberada. A representação (já que é dela que se trata aqui) tem de contar inelutavelmente com o gestus social: desde que se ‘representa’ (que se recorta, que se defina o quadro e que se desmembra o conjunto), é preciso decidir se o gesto é social ou não (se ele se refere, não a tal sociedade, mas ao Homem)" [Roland Barthes]

habitus: 1. "A palavra exprime, infinitamente melhor que 'hábito', a 'exis' [hexis], o 'adquirido' e a 'faculdade' de Aristóteles (que era um psicólogo). Ela não designa os hábitos metafísicos, a 'memória' misteriosa [...]. Esses 'hábitos' variam não simplesmente com os indivíduos e suas imitações, variam sobretudo com as sociedades, as educações, as conveniências e as modas, os prestígios. É preciso ver técnicas e a obra da razão prática coletiva e individual, lá onde geralmente se vê apenas a alma e suas faculdades de repetição" [Marcel Mauss]

iluminação profana: 1. "De nada nos serve a tentativa patética e fanática de apontar no enigmático seu lado enigmático; só devassamos o mistério a medida que o encontramos no cotidiano, graças a uma ótica dialética que vê o cotidiano como impenetrável e o impenetrável como cotidiano. Por exemplo, a investigação mais apaixonada dos fenômenos telepáticos nos ensina menos sobre a leitura (processo eminentemente telepático) que a iluminação sobre a leitura pode ensinar-nos sobre os fenômenos telepáticos. Da mesma forma, a investigação mais apaixonada da embriaguez produzida pelo haxixe nos ensina menos sobre o pensamento (que é um narcótico eminente) que a iluminação profana do pensamento pode ensinar-nos sobre a embriaguez. O homem que lê, que pensa, que espera, que e dedica a flânerie, pertence, do mesmo modo que o fumador de ópio, o sonhador e o ébrio, a galeria dos iluminados. E são iluminados mais profanos. Para não falar da mais terrível de todas as drogas - nós mesmos - que tomamos quando estamos sós" [Walter Benjamin]

inconsciente ótico:

liminaridade: 1. "a passagem entre 'status' e estado cultural que foram cognoscitivamente definidos e logicamente articulados. Passagens liminares e 'liminares' (pessoas em passagem) não estão aqui nem lá, são um grau intermediário. Tais fases ou pessoas podem ser muito criativas em sua libertação dos controles estruturais, ou podem ser consideradas perigosas do ponto de vista da manutenção da lei e da ordem. [...] um artefato (ou 'mentefato') de ação cultural" [Victor Turner]

mimesis: 1. "a faculdade mimética, a natureza que a cultura utiliza para criar uma segunda natureza, a faculdade de copiar, imitar, criar modelos, explorar diferenças, submeter e tornar-se Outro. O fascínio da mimesis reside na cópia feita sobre o caráter e o poder do original, ao ponto em que a representação chega mesmo a assumir aquele caráter e aquele poder. Numa linguagem antiga trata-se da "magia simpática", e acredito que ela é necessária em muitos processos de conhecimento como na construção e subseqüente naturalização das identidades. Mas se ela é uma faculdade, é também uma história, e tal como as histórias fazem parte do funcionamento da faculdade mimética, também a faculdade mimética faz parte dessas histórias. A incompreensão da mimesis torna-se interessante se ela deixa de ter mobilidade para atravessar esta rua de mão dupla, o que é particularmente pertinente ao colonialismo Euro-Americano, a relação percebida entre o processo civilizatório e a selvageria, a imitação" [Michael Taussig]; 2. "A natureza engendra semelhanças: basta pensar na mímica. Mas é o homem que tem a capacidade suprema de produzir semelhanças. Na verdade, talvez não haja nenhuma de suas funções superiores que não seja determinada pela faculdade mimética. Essa faculdade tem uma história, tanto no sentido filogenético como ontogenético. No que diz respeito ao último, a brincadeira infantil constitui a escola dessa faculdade. Os jogos infantis estão impregnados de comportamentos miméticos, que não se limitam de modo algum à imitação de pessoas. A criança não brinca apenas de ser comerciante ou professor, mas também moinho de vento e trem. A questão importante, contudo, é saber qual a utilidade para a criança desse adestramento da atitude mimética. [...] correspondências naturais somente assumem sua significação decisiva quando levamos em conta que fundamentalmente todas elas estimulam e despertam a faculdade mimética que lhes corresponde no homem. Deve-se refletir ainda que nem as forças miméticas nem as coisas miméticas [...] permaneceram as mesmas [...]; com a passagem dos séculos a energia mimética, e com ela o dom da apreensão mimética, abandonou certos espaços. talvez ocupando outros. [...] A questão é se se trata de uma extinção da faculdade mimética ou de sua transformação" [Walter Benjamin]

montagem: 1. "O que, então, caracteriza a montagem, e, conseqüentemente sua célula - o plano? A colisão. O conflito de duas peças entre si. O conflito. A colisão. [...] Da colisão de dois fatores determinados, nasce um conceito. [...] Se a montagem deve ser comparada a alguma coisa, então uma legião de trechos de montagem, de planos, deveria ser comparada à série de explosões de um motor de combustão interna" [Sergei Eisenstein]

performance: 1. "A performance pode ser definida como toda atividade de um determinado participante, em dada ocasião, que sirva para influenciar, de algum modo, qualquer um dos outros participantes. Tomando um participante particular e seu desempenho como um ponto de referência básico, podemos chamar aqueles que contribuem com os outros desempenhos de platéia observadores ou co-participantes" [Erving Goffman]

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