26.3.12

19/03 - Grupo 02 - TS1 - Marcel Mauss: Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a de “Eu”.

Texto da aula: MAUSS, Marcel. "As técnicas do corpo" e "Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a de 'eu'". In: _____. Sociologia e antropologia. São Paulo: CosacNaify, 2003.


(Segundo a apresentar no dia 19-03)


Grupo 2: Gabriela Dias
Frederico Bertani
Thaís Rossi
Stella Theodoro
Inga Sunremmuk
Fabio Zuker


Ao afirmar que a categoria de “pessoa”, a idéia do “Eu” é uma categoria do espirito humano histórica, construída por inúmeras sociedades e através do tempo, Marcel Mauss a torna passível de estudo e reconstrução. O autor afirma que este conceito é um assunto de história social, a partir da qual se construiu uma noção e conceito humano a respeito. Seu intuito é analisar como esta noção assumiu espaço na vida social dos homens, suas estruturas sociais, religiões e mentalidades.
O primeiro caso tratado por ele é o dos índios Pueblos, dos Zuñi, documentados por Frank Hamilton Cushing. Estes índios concebem seus clãs como contituídos por um certo número de personagens, cada um por si, tem o papel de figurar a totalidade prefigurada do clã - como as “Fraternities” ou “Secret Societies” (conceito utilizado por Powell em “Bureau of American Ethnology”). Para isto, os nomes de cada um dos membros das fraternidades dizem respeito não só a tal organização - suas vidas públicas e privadas - mas sobretuto às suas posições dentro das confrarias. Estas se explicitam em demonstrações públicas, quase teatrais, sobretudo entre os Hopi, através das danças de máscaras.
Segundo Mauss, há nos Pueblos uma noção da pessoa, do indivíduo confundido com seu clã, mas destacado dele no cerimonial, pela máscara, por sua posição, seu papel, seu reaparecimento (do ponto de vista espiritual) na terra, em um descendente dotado das mesmas funções, títulos, posições e prenome que aqueles já falecidos. Para os Zuñi, todo invidívuo tem um nome ou até dois para cada estação (verão ou inverno), repartidos entre famílias separadas e os clãs que colaboram nos titos, quando os chefes e famílias se enfrentam em intermináceis potlach. O prenome do indivíduo muda com sua idade e funções que ele cumpre a partir de sua idade.
Entre os índios Kwakiutl em particular, a partir das classes e dos clãs, ordenam-se as “pessoas humanas”, e, assim, ordenam-se seus gestos num drama. Todos são atores e, teoricamente, todos os atores são todos os homens livres.
Entre eles, o drama representa mais do que um sistema social, mas uma imensa troca de direitos, danças, cerimônias, de um sistema religioso e ao mesmo tempo mitológico, cósmico, social e pessoal. Podendo ser comparados, por sua importância, ao Kula, circuito de intercâmbio e troca de caráter intertribal praticadas por comunidades da província Papua-Nova Guiné e Milne Bay, estudado por Bronislaw K. Malinowski. E/ou mesmo ao Poutlach, prática de intercâmbio trbial das tribos do Pacífico Noroeste da América, estudado por Mauss em “Ensaio sobre a dádiva”.
Tanto a cerimônia das máscaras Zuñi, o Kula e o Poutlach constituem-se performances, experienciadas por seus conjuntos de indivíduos, para configurar suas posições de troca, funções sociais, e toda uma estrutura de convívio e relacionamentos. O que está em jogo, mais do que as autoridades dos chefes e clãs, é a existência de seus antepassados, que reencarnam e revivem em seus corpos, pois são os detentores de tais direitos de poder e função, perpétuos por conta pelo ritual em todas as suas fases.
A perpetuidade das almas e das coisas se dá, portanto, através dos nomes dos indivíduos, das pessoas. Essas são representantes e também responsáveis por seu clã, sua família, sua tribo.
Com essa performance dramática através das máscaras, se prova a presença do nawalaku, elemente de força impessoal, do antepassado, do deus pessoal, espiritual, “o potlatch vitorioso, o cobre conquistado, correspodem à dança impecável e à possessão bem-sucedida” (MAUSS, Marcel. “Sobre sociologia e antropologia”, p. 378).
Por isso, nossa performance de grupo foi apresentar uma cerimônia de máscaras, onde um sujeito tem seu “Eu” formado através da transmissão das funções, atuações e a da possessão do nawakalu, através dos vivos que o circundam, presentes. Uma integrante de nosso grupo começou deitada no chão, em estado de absoluta passividade, e foi sendo acordado pelos outros presentes, em uma cerimônia de conhecimento e passagem de um estado de vigília à vida, transformada socialmente. O primeiro, nul, inerte, por si só; o segundo, com suas atribuições feitas pelo corpo social circudante. Uma troca de conhecimentos entre os corpos, uma dança de aprendizagens. Assim que esta se encontrava em pé, os membros que a traziam colocaram uma máscara para ela então se tornar um personagem; mascarada como todos os outros.
Da mesma maneira que os Kwakiutl tem todos seus homens livres como atores, que ordenam-se em um drama, nosso grupo optou por também fazer do estado de consciência e da dança de máscaras uma atuação de formação e personificação daquele Eu.
Uma segunda parte importante para análise da performance foi a presença de objetos tecnológicos, como calculadora, notebook, e, de aparência geral, cibernéticos, como uma fita cassete junto com alguns outros membros, que se mostravam numa fusão com os objetos e seus mecanismos. Estes homens máquinas simbolizaram durante todo o processo de cerimônia de formação as novas formações de “personas” (como Mauss descreve a noção de pessoa fundada pelos romanos, a palavra latina “persona”), a partir de um cotidiano muito mais conectado com instrumentos eletrônicos, vivido atualmente. Eles são um exemplo da sociedade moderna dotada de “máscaras permanentes”, seja através de uma relação estreita com a televisão, o computador, ipods, ipads, fones de ouvido, entre outros aparatos.
Os Zuñi e os Kwakiutl também constituem-se sociedades com máscaras permanentes (Mauss descreve na Austrália sociedades com máscaras temporárias).
Entre essas tribos australianas e Os Pueblos, porém, a máscara exerce a mesma função de representação extática do antepassado. O que, em nossa performance, quisemos juntar com a idéia de representar – e de maneira dinâmica – o presente. Passado e presente foram expressos simultaneamente. Os homens, carregados de suas máquinas, agindo maquinamente, evidenciam o que escreveu Mauss: as funções como fórmulas do ser. E ao final, todos interagiam juntos. Evocando a carga de obrigações, do papel do indivíduo através da noção de personagem, de espírito através da performance tecnológica também.

Um comentário:

benjamin, brecht e antropologia disse...

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