3.7.12

TS VI

Estamos em uma sala de aula, ouvem-se uma balburdia e logo pode ser visto alunos entrando pela porta da sala falando alto, correndo e brincando entre si. A professora que estava sentada em sua imponente mesa, prontamente levanta e expressa a sua insatisfação quanto ao acontecido. Não fala palavras, mas emite sons e grunhidos. Deixa claro que eles devem sair da sala e voltar de uma maneira condizente com o ambiente escolar. Com uma postura de general do exercito fica imóvel com o olhar no horizonte enquanto os seus quatro alunos saem e voltam em fila indiana sem emitir um som e com movimentos contidos. Passam de cabeça baixa e sentam em um semi circulo na frente da mesa da professora e a observam com respeito.
A professora fala um pouco e gesticula, vai até a lousa e desenha um quadrado perfeito. Olha para os seus alunos e vai chamando, um por vez para ir a lousa e também desenharem quadrados. Um a um foram até a professora que os avaliava dos pés a cabeça e achava algo errado. Do primeiro arruma o óculo torto, da segunda arruma a gola da camisa levantada e da terceira tira o chapéu que a aluna usava e coloca em cima da mesa. Todos os três primeiros alunos que foram até a lousa desenharam seus quadrados, uns maiores e outros menores, uns retos outros tortos, mas todos imitando a forma geométrica de quatro arestas e quatro ângulos retos. A quarta foi até a lousa, teve o seu cabelo descabelado arrumado e ao invés de desenhar um quadrado desenhou um círculo. A professora fica transtornada com o equivoco da aluna e passa dar um sermão na menina envergonhada. De costas para os outros alunos não vê uma das crianças se empolgar com a situação de liberdade dada pela falta do olhar certeiro e punitivo da professora. O menino levanta, pega um giz que estava em cima da mesa e desenha um grande triângulo no chão.  Olha pros outros, distribui outros pedaços de giz e sobe na mesa da professora.  Ela por sua vez continua a tentar ensinar a menina a fazer o quadrado. De cima da mesa o menino se comporta feito um macaco de tão excitado que está. As crianças no chão começam a imitar o triângulo desenhado, mas são repreendidas pelo pequeno macaco transgressor, que indica que elas têm que desenhar outra coisa. Joga o chapéu que estava em cima da mesa para a menina que o usava, pede pra a outra levantar a gola da camisa abaixada. As crianças começam então a desenhar formas e imagens que nada tem a ver com as referencias dadas. Pouco tempo passa e a professora percebe o insurgente em cima da mesa e os desenhos desviados feitos no chão. Da uma grande bronca em todos. O menino sai prontamente de cima da mesa, os outros apagam o seu desenho no chão e se arrumam de acordo com os padrões pré-estabelecidos, voltando todos a posição de alunos obedientes atentos a professora imponente a frente da classe. Fim.
            A conexão que fizemos com o texto proposto para a aula foram as relações hierarquizantes entranhadas no teatro/Estado do Negara. No texto o autor explicita como as posições sociais de diferentes níveis de poder estão apoiadas em toda misancene executada não só na ocasião da morte do líder, mas também na vida cotidiana. O espaço do ritual é o lugar onde as diferentes posições sociais e tradições culturais são encenadas e reafirmadas junto a população que assiste. O poder exercido pela professora fica evidente no pretenso domínio do conhecimento assim como na determinação dos padrões de comportamento. O menino que toma uma atitude anárquica, a princípio, percebe que pode controlar a situação. A identificação de que o controle da mesa está relacionado ao domínio dos outros mostra essa apropriação. O aprendizado de técnicas corpóreas é utilizado nesse caso para “subverter” o status quo. A hierarquia apreendida em classe reverbera para além dela na vida cotidiana. A aula é o espaço do ritual para pontuar e reificar atitudes e compromissos embebidos de significado.

Referência Bibliográfica

GEERTZ, Clifford.  “Afirmação política: espetáculo e cerimônia” (cap. IV). In: O Estado Teatro no século XIX. Lisboa: Difel, 1991, Pp. 127-152.  

 
Grupo 6:
Adriana Mendes Diogo
Cláudia Carolina Fuga dos Reis
Mariana de Oliveira Gomes
Raoni Costa
Shoko Mori
Talita Bertoni

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