4.7.12

TS VIII

Um típico programa de televisão matutino, um desentendimento entre a apresentadora e a convidada e ouve-se um “Parou, parou, parou”.
As representações são criticadas, o exagero da performance, o ângulo. A cena se repete, tudo conforme o script, a apresentadora vai finalmente comer o prato preparado e mais uma vez um “Parou, parou, parou”.
O juiz paralisa a cena, afinal por que se atentar tanto a esses detalhes de luz e técnica teatral quando o que importa é a reconstituição de um fato que pode ter dado origem à peste?
Os artistas estão exaustos, pedem uma pausa, o juiz a contragosto concede, afinal esse é o último grupo de teatro que sobrou, come um pedaço da receita e de súbito cai no chão, todos olham espantados e “Parou, parou, parou”.
O que está acontecendo? Seria essa performance sobre um programa matutino de televisão, ou um grupo de teatro ensaiando, ou ainda a reconstituição do momento trágico em que o juiz morre misteriosamente, ou quem sabe um dos episódios da série “Você decide”?
A turma começa a se questionar, até que: “Parou, parou, parou”.
Inicia-se uma intervenção e depois outra e mais outra e “Parou, parou, parou”.
Os alunos se recompõem do TS, “nossa pessoal desculpa, não era bem isso que agente queria fazer”, “caramba, ficou confuso mesmo”, “putz, será que alguém entendeu?”, o grupo assiste o TS seguinte, mais um “Parou, parou, parou”.
A conversa dessa vez é entre os participantes do grupo, “Uhuu, nosso TS foi um sucesso”, “certeza que todo mundo entendeu”, “esse lance de metafísica, peste, cultura, muito loco”, “a complexidade do TS conseguiu abranger por completo o tema desse texto”, “Parou, parou, parou”.
Inicia-se agora uma espécie de diálogo interno: “nossa, será que a galera entendeu mesmo esse texto?”, “juro que não entendi o que o nosso TS tem a ver com a metafísica”, “será que só eu não entendi a lógica desse TS, todo mundo pareceu ter entendido tão bem ”...“ Parou, parou, parou”.
O diálogo interno dá então lugar à contemplação dos sentidos, a lágrima corre, a fala some, por mais que se tentem, as palavras não são suficientes, até que “Parou, parou, parou”.
O sinal toca, é a hora do intervalo, “Parou, parou, parou”.
Como é possível expressar com palavras nosso Teatro Seminário? Como exprimir através da linguagem das palavras o que foi feito, visto, sentido? Essa ditadura da palavra, que para o autor pode limitar o teatro, foi posta em xeque durante a aula, não havia palavra para dizer o que se passava, mas nos olhares, lágrimas e gestos foi possível perceber. Para Artaud: “Se nossa vida carece de enxofre, isto é, de uma magia constante, é que nos agrada contemplar nossos atos e nos perder em considerações sobre as formas pensadas de nossos atos, em lugar de sermos arrastados por eles”, essa magia de ser arrastado pelos atos norteia o teatro de Artaud e explicar essa magia seria como “nos perder em considerações” sobre essas ações e não se deixar transbordar. Dessa forma termino esse post, sem mais considerações sobre o TS, apenas com a intenção de seguir os passos do autor. “Parou, parou, parou.
Esqueci-me de falar da metafísica... ah, ela está aí pelo texto. “Parou, parou, parou”.


Referência Bibliográfica
ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. SP: Martins Fontes, 1999.

Grupo 6:
Adriana Mendes Diogo
Cláudia Carolina Fuga dos Reis
Mariana de Oliveira Gomes
Raoni Costa
Shoko Mori
Talita Bertoni

Nenhum comentário: