TS2- PONTOS DE CONTATO ENTRE O PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO E TEATRAL: RICHARD SCHECHNER.
Texto da aula: Schchener, Richard. “Pontos de contato entre o pensamento antropológico e teatral”. Trad. Ana Letícia Fiori. Cadernos de campo, 20, 2011.
Integrantes do grupo:
Allan Levorato
Kleyton Rogério
Glaúcia Veith
Kaio Rafael
Sueli Lao
Carolina Mazzarielo
Mariana Vieira
Felipe Torres
O grupo Kr² realizou sua performance a partir do texto: Pontos de contato entre o pensamento antropológico e teatral de Schechner, no qual o autor elucida a ligação entre a antropologia e o teatro, aproximando os rituais das performances e tratando-os como interação entre a arte performática e a antropologia.
Schechner aponta para uma constante e crescente convergência entre as duas áreas (a antropologia e o teatro). O teatro encontra-se em vias de se “antropologizar”, se ritualizando através de técnicas para chegar a uma performance consistente, no sentido de mesmo que a transformação seja incompleta, o papel da performance é, na medida do possível, é trabalhar a dimensão real do cotidiano, dando novos sentidos para a experiência do mundo. Ao mesmo tempo, para o autor, a antropologia está se “teatralizando”. Segundo ele, essa convergência “é parte de um movimento intelectual mais amplo, no qual a compreensão do comportamento humano está mudando de diferenças quantificáveis de causa e efeito, passado e presente e, forma e conteúdo, etc”.
A partir disso, são evidenciados no texto de Schechner seis principais pontos de contato entre a antropologia e o teatro, sendo eles:
1) Transformação do ser ou consciência: aborda-se as diversas formas de alterações dos performers pelas suas praticas performáticas;
2) Intensidade da performance: com esta visa-se descobrir como uma performance constrói, acumula, ou usa a monotonia; como ela atrai participantes ou intencionalmente os barra; como o espaço é projetado ou manipulado; como o cenário ou roteiro é usado – em resumo, faz-se um exame detalhado de todo texto performático;
3) Interações entre audiência e performer: há, aqui, reciprocidade entre ambos os lados (performers e platéia);
4) Seqüência total da performance: treinamento, oficina, ensaios, aquecimentos, performance, esfriamentos e desdobramentos;
5) A transmissão do conhecimento performático: aborda-se as diferentes maneiras de se repassar o conhecimento da/sobre a performance;
6) Como as performances são geradas e avaliadas: verifica-se a dificuldade dos processos de avaliação.
Dito isto, o grupo Kr² refletiu criticamente sobre a produção antropológica clássica para compreender melhor o esforço teórico de Schechner, não se furtando em construir uma analogia entre o clássico, o contemporâneo, suas passagens e prováveis pontes. Nesse sentido, manifestou-se a intenção de interpretar, performaticamente, um ritual de parto do povo cuna, relatado no livro de Levi-Strauss (A eficácia simbólica, in Antropologia Estrutural). Em nossa performance o parto resultou em um caderno de campo, símbolo da produção, ou melhor dizendo, da realização antropológica. A proposta do grupo era realizar uma apresentação que demonstrasse esses possíveis pontos de contato entre a antropologia e a performance e ponderar que até mesmo na antropologia clássica estrutural levi-Straussiana, pode-se encontrar relações entre a ciência antropológica e a performance. Além desses pontos, pretendeu-se colocar em discussão um certo processo de “busca por uma identidade” da própria disciplina antropológica, trazendo à tona a transformação que é idiossincrática ao processo de identificação. Com essas provocações pós-modernas, outras possibilidades de conhecimento antropológico surgem, resultando em re-entendimentos, re-situações, e desenvolvendo novas formas de expressão etnográfica.
Desta maneira, a performance iniciou-se com o grupo em roda no centro da sala, cercado pelos demais presentes; a primeira ação foi uma salva de palmas deflagrada pelos performers. Nas apresentações dos demais grupos, as palmas tiveram lugar após um “fim” declarado pelos performers e pensamos em alterar essa forma que vinha se firmando. Com alguns gestos, marcamos também o espaço no qual seria realizada a apresentação, em oposição ao restante do espaço livre da sala.
Em seguida, um colega do grupo deita-se sobre a mesa do docente, com a barriga inflada, e adota posições e expressões de parturiente. Ao redor dele, vários personagens mostram-se interessados pela cena – uma parteira, que tenta realizar o parto sem sucesso; algumas pessoas que parecem preocupadas com a situação; uma pessoa que saltita e dança com as mãos postas à cabeça à semelhança de galhada, fazendo às vezes de uma “entidade” animal; uma pessoa que filma o que está ocorrendo – não fica claro se esta participa do enredo e está presente na cena ou se está filmando a performance.
Após o insucesso da parteira, esta resolve (assim como é relatado por Lévi-Strauss) convocar um xamã para a cena; este adentra o espaço performático com um gesto e declama um poema tradicional cuna (que na etnografia é cantado na língua da tribo) em português. Após o término da declamação, na qual o xamã circundou o parturiente e tocou em sua barriga, o parto finalmente se desenrola. Eis que da barriga nasce um caderno de campo, e o grávido exclama: -Ai, que preguiça!. Talvez uma alusão à Macunaíma, o “herói sem nenhum caráter”, e essa antropologia que tenta reelaborar seus paradigmas, sua cara, suas fontes....
O grupo ainda carrega a certeza de que o esforço de transportar o aprendizado antropológico para o performático é uma experiência que não se exprime por meio de tessituras argumentativas e convida os colegas a assistir o vídeo da performance em questão.
Um abraço do grupo Kr²!
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