Texto da aula: Goffman, Erving. “Representações” (“Performances”) (cap. 1). In: A representação do eu na vida cotidiana.
Integrantes do Grupo 2: Gabriela Dias
Frederico Bertani
Thaís Rossi
Stella Theodoro
Inga Sunremmuk
Fabio Zuker
Caio Buni Gomes de Souza
Jorge Gonçalves
Erving Goffman em “A representação do eu na vida cotidiana” diz examinar a crença do indivíduo na impressão de realidade que ele tenta dar aos outros que o rodeiam. Base da vida social e o que poderia justificar a priori a concepção de “Pessoa”, que significa máscara.
Este afirma que todo homem que convive socialmente, em qualquer lugar, sempre está representando um papel. Existe, portanto, por trás de todos os comportamentos, um querer ser alguma coisa ou alguém, o nosso eu verdadeiro, aquilo que gostaríamos de ser. Este papel e sua concepção tornam-se parte integral da personalidade, e são partes de nosso “eu”.
Uma variação desse eu é o que autor chama de cínico. Aquele que pode enganar seu público, tanto pelo que julga ser seu bem, tanto como meio para outros fins. Alguém que não acredita na sua atuação ou na crença de seu público nessa é chamado de cínico, permitindo a máxima geral de que um indivíduo pode estar convencido de seu ato ou ser cínico a respeito dele.
Em nosso teatro seminário fruto da leitura de Goffman, traduzimos bem esta concepção de cínico, nos apropriando da relação muito bem exemplificada por Goffman, a performance profissional tão exigida no mundo moderno. Esta baseia-se em algumas características de todos papéis sociais.
Quando se assume um papel social estabelecido, sempre verifica-se que uma fachada já foi estabelecida para este. Ou seja, os itens de equipamento expressivo necessários para o autor, sejam suas roupas ou outros estímulos que funcionam para revelar seu status social, seja a maneira que o autor interage esperando desempenhar sua performance na situação.
As fachadas, no entanto, tendem a se tornar uma “representação coletiva”, institucionalizada. Estas vão se mantendo ou sendo trocadas, quando alguém modifica a fachada já estabelecida de um papel, a nova fachada dificilmente vai ser inédita. Todo papel social se depara com tal obrigação, de manter sua fachada, e, ao mesmo tempo, realizar sua mencionada tarefa.
Nosso grupo se utilizou de uma típica situação de trabalhadores atuando em um cenário, que não era, porém, um ambiente fixo. Trabalhar em vários ambientes, de certa maneira, evidencia ainda mais como as fachadas são levadas de um lugar para o outro pelos atores, pois é como se estes fossem os mesmos em todas as situações dentro do ambiente de trabalho, exercendo sua função. Isso é o que esperam, que deveriam fazer, nos diferentes espaços, realizando no fundo a mesma tarefa que é desepenhar um papel. Estes, dessa vez, eram responsáveis por monitorar a aula de Antropologia da Performance do Professor John Cowart Dawsey.
Este grupo tende a reinvidicar sua identidade coletiva de forma que isso seja um fato por direito próprio, de acordo com Goffman. Dessa maneira recebem um sentido e uma estabilidade à parte de suas tarefas específicas, realizadas em nome da identidade. O autor sinaliza, porém, que o problema em dramatizar o próprio trabalho consiste em desviar considerável quantidade de energia para esse fim, o que representa um conflito recorrente nessa atuação entre expressão versus ação.
Foi por isso que, atentos à fachada social de todos os membros do grupo, enquanto estivemos “realizando nosso trabalho”, andávamos sempre com a mesma postura e tom de voz, expressão formal e estável.
Desta mesma maneira, a formalidade esperada tantos pelos executantes quanto pelos observadores do trabalho de monitoria (e “segurança”, bem-estar dos alunos) marcou especialmente a apresentação do professor, com a leitura de sua formação acadêmica, pesquisas realizadas e afins de seu currículo Lattes. Isto expressa a tendência dos atores de oferecer aos observadores uma impressão que é idealizada da situação, de um alto nível de instrução por parte do profissional mais idealizado no momento presente, do responsável pela disciplina, pelas aulas, pela formação dos alunos, como se um enorme currículo fosse suprir a necessidade básica de todos por um professor competente, no caso.
Na medida que uma representação ressalta os valores oficiais comuns da sociedade, implícitos nas expectativas quanto às atuações e performances, pode-se considerar, segundo Goffman, a representação, à maneira de Racliffe-Brown e Durkheim, uma cerimônia, rejuvenescimento e reafirmação dos valores morais sociais.
Ao mesmo tempo, a segunda parte de nosso teatro foi como peça chave para elucidar o que o próprio autor explica como as ações incompatíveis com o padrão ideal presente na representação, como o consumo secreto pode ser exemplo. Desta maneira, os mesmos funcionários que pareciam capazes, cooperativos, disciplinados, comprometidos e competentes, enquanto tomavam seu cafézinho, longe dos observadores e de seu cenário, apresentaram queixas frequentes sobre tudo e todos. Da maneira arrogante com que o professor, desconfiado, não aceitou beber água trazida para ele. Sobre a desorganização dos alunos, e, portanto, sobre quão importantes era o papel desses de os organizar. Mostraram dessa forma um enorme descompromisso por trás da aparência de profissional comprometido, inúmeras reclamações, por trás da aparência de satisfação, e impressões e sentimentos em relação à própria atuação e ao comportamento de seus espectadores que, obviamente, não poderia ser levado à cabo durante a atuação. A impressão de compatibilidade sagrada entre o homem e sua atividade foi quebrada, pois a impressão de realidade criada por uma representação, mesmo que em grupo, é uma coisa frágil e delicada. O conflito sobre o qual Goffman diz: “A coerência expressiva exigida nas representações põe em destaque uma decisiva discrepância entre nosso eu demasiado humano e nosso eu socializado.” (“A representação do eu na vida cotidiana”, pg. 58).
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