3.4.12

26/03 - Grupo Maus Tratos Bons Trapos - TS2 - Schechner - O ator e sua experiência

Grupo 5 – Grupo Maus Tratos Bons Trapos

Texto da aula: SCHECHNER, R. "Pontos de contato entre o pensamento antropológico e teatral". Cadernos de Campo, n.20, São Paulo, 2011.

Integrantes: 
Ana Carolina Mendes Marinho Valentim Candido
Érica Gibaja
Felipe Munhoz Martins Fernandes
Heloisa Tanasovici Cardani
Isadora Biella
Pedro Paulo
Wagner dos Santos Veillard

TS: O ator e sua experiência

Um Ator se prepara para a sua performance (um monólogo) num teatro convencional. Ele executa, como de praxe, exercícios cênicos de repetição e manipulação de suas ferramentas corpóreas: voz, postura, gestos, etc. que ajudam a se adequar ao personagem a e performance desejada durante os ensaios. Em seu processo de criação – além dos elementos diversos que compõe uma “peça” como figurino, direção, direção de arte, iluminação, etc. que estão implícitos – participa da criação a “voz da consciência” que, no limite, poderia ser “a consciência crítica”. Esta “consciência” será a linha que conduzirá a performance, deixando perceptível a permanência do Eu na atuação, ao invés do “não-eu” pela absorção quase completa da personagem pelo sujeito ator.
A performance é iniciada após o aquecimento do ator no backstage. Praticamente um ritual de concentração e introjeção. Neste aquecimento o ator concentra-se no sentido de adentrar seu não-eu desejado. Finalmente, durante a apresentação, uma pessoa da platéia tem um aceso de tosse, o que causa o arrebatamento concêntrico do ator em sua performance, ou seja, o ator erra o texto. A sua “voz da consciência” tenta estabelecer a personagem no centro de atenção do ator, enquanto o público percebe a movimentação de modo impassível. O ator retoma a linha condutora da performance e encerra sua apresentação normalmente.
A cena apresentada pelo grupo 5 neste seminário foi elaborada de maneira apressada em decorrência de inúmeros percalços da primeira reunião de grupo, o que acarretou a exclusão de inúmeras possibilidades cênicas pensadas nos encontros que a precederam. É necessária uma extrema ginástica intelectual e dramatúrgica para poder moldar cenas que contemplem os conceitos elencados e desenvolvidos por Richard Schechner em “Pontos de contato entre o pensamento antropológico e teatral” (R. Schechner, 1985).
A noção de interação entre audiência e performance foi central em nossa apresentação; do ponto de vista da efemeridade da performance, mesmo duma performance marcada, ou seja, ensaiada repetidas vezes, sua essência é atualizada em cada apresentação, o que quer dizer que, apesar das tentativas, dificilmente uma apresentação será igual a outra; no limite, ela poderá ser considerada um simulacro (Deleuze, 1969 - Lógica do Sentido) a cada apresentação. Outra noção que quisemos trabalhar tem a ver com a aproximação entre ritual e performance teatral. Nesse sentido tentamos reproduzir tal aproximação no instante do “ensaio” pré-apresentação. Grosso modo, podemos aproximar o ensaio teatral ao ritual segundo a idéia de que, em ambos, exercita-se a “incucação” de características do status (personagem) desejado, ou seja, a criação dum outro “Eu”, ou o “não-eu”. É nesse instante que a noção de experiência tem lugar de destaque em grande parte das elucubrações de Richard Schechner e Victor Turner. A experiência da atuação, do ensaio, da criação cria marcas corpóreas e mentais em seus agentes atuantes e autores e atores. Neste instante cria-se algo novo, no limite, uma nova personalidade, uma nova marcação corpórea (M. Mauss, 1935).
No limite, o que tentamos com muito esforço, reproduzir foi essa interação entre audiência e ator de maneira inversa à talvez pensada por todos. Uma interação ao mesmo tempo distante e aproximada. Distante porque a performance não se alterou de maneira criativa em relação ao aceso de tosse da expectadora, mas esquiva, fugidia. Tentou-se, com tal cena, reproduzir uma interação negativa. Negativa talvez não seja a palavra exata, mas, por falta de uma melhor, o que tentamos demonstrar foi a interação distanciada, que não dialoga com o público, mas tanta calá-lo, que mantém a distância de um público passivo e o performance ativo.
Não há, contudo, juízo nesta acepção, mas sim a exposição da possibilidade factual de performance, que, evidentemente figura como maioria em nossa sociedade.

Um comentário:

Bruna Triana disse...

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