8.6.12

Coragem e sobrevivência

Texto-referência:
BRECHT, Bertolt. 1991. “Mãe Coragem e seus Filhos” (pp. 171-266). In: Teatro Completo 6. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Grupo kr²
Allan Levorato
Carolina Mazzarielo
Felipe Torres
Glaúcia Veith
Larissa L. de Barcellos
Kaio Rafael
Kleyton Rogério
Mariana Vieira

Mãe Coragem recebe a notícia que seu filho fora executado e que deve manter as aparências para não sê-lo também, juntamente com a sua filha e amigos. De súbito, ouve-se o som de uma marcha, e soldados invadem o recinto trazendo um corpo. Ordenam veementemente que todos os presentes se levantem, seja personagens seja espectadores, que acabam fazendo parte da performance. Interpelam: você o conhece? Não, responde a Mãe, retirando forças da covardia e da coragem. Os soldados saem, deixam sobre o chão marcado a giz o entorno daquele que há pouco ainda vivia, ordenam que a plateia se sente, são prontamente obedecidos e à Mãe resta encarar aquele despojo de morte e vida. Levanta os olhos, caminha para frente e desafiadoramente lança aos que assistiram ao seu "drama": “de quem se senta não vem revolta nenhuma!” (p. 220).

Estávamos diante de um texto teatral que ganha vida na encenação. Assim o fizemos e por mais que esta parecesse a solução mais óbvia fomos o único grupo que baseou a sua performance na representação, ainda que de modo livre, da obra. O desfecho fora somente deslocado: em certa passagem ela diz aquela frase a um soldado revoltado que queria receber a sua recompensa e logo tem a sua rebeldia arrefecida. O conformismo foi transposto e pretendeu, de modo provocador, instigar a reflexão: somos menos revoltosos do que queríamos e mais obedientes do que supomos. Digna de nota foi a resistência condescendente da plateia ao ter que levantar-se, e em seguida, a prontidão com que se sentou.

Um homem com voz firme encarnou a Mãe; uma moça franzina, o filho morto; homens altos, os soldados; uma moça maquiada, a amiga. Com esses jogos de representação, ora fidedignos ora totalmente destoantes das personagens, pretendemos evidenciar o "efeito de distanciamento", tão característico da obra brechtiana. O efeito também foi reforçado pela fala da Coragem, inusitadamente dirigida à plateia, a fim de provocar uma reflexão e, quem sabe, uma proximidade com aquela mãe que ganha e perde tudo na guerra. Colocariamo-nos contra aquela ordem? Colocamo-nos contra alguma coisa? Qual é a medida do nosso sacrifício para simplesmente sobrevivermos?

Afinal, o que queremos: que a guerra perdure ou que a paz se instaure? Questões diretas, cujas respostas não nos são imediatas, seja quando nos colocamos no lugar daquela mascate ou quando ela se põe no nosso lugar. A Mãe Coragem não pede julgamento, tampouco compreensão: pede que nos levantemos das cadeiras e nos sentemos apenas quando tivermos cansados de lutar. E a primeira luta é contra nós mesmos, contra o conformismo ou contra o inconformismo paralisado.

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