Texto-referência:
BRECHT, Bertolt. 1991. “Mãe Coragem e seus Filhos” (pp. 171-266). In: Teatro Completo 6. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
BRECHT, Bertolt. 1991. “Mãe Coragem e seus Filhos” (pp. 171-266). In: Teatro Completo 6. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Grupo kr²
Allan Levorato
Carolina Mazzarielo
Felipe Torres
Glaúcia Veith
Larissa L. de Barcellos
Kaio Rafael
Kleyton Rogério
Mariana Vieira
Mãe Coragem recebe a notícia que seu filho
fora executado e que deve manter as aparências para não sê-lo também,
juntamente com a sua filha e amigos. De súbito, ouve-se o som de uma marcha, e
soldados invadem o recinto trazendo um corpo. Ordenam veementemente que todos
os presentes se levantem, seja personagens seja espectadores, que acabam
fazendo parte da performance. Interpelam: você o conhece? Não, responde a Mãe,
retirando forças da covardia e da coragem. Os soldados saem, deixam sobre o
chão marcado a giz o entorno daquele que há pouco ainda vivia, ordenam que a
plateia se sente, são prontamente obedecidos e à Mãe resta encarar aquele
despojo de morte e vida. Levanta os olhos, caminha para frente e
desafiadoramente lança aos que assistiram ao seu "drama": “de quem se senta não
vem revolta nenhuma!” (p. 220).
Estávamos diante de um texto teatral que
ganha vida na encenação. Assim o fizemos e por mais que esta parecesse a
solução mais óbvia fomos o único grupo que baseou a sua performance na
representação, ainda que de modo livre, da obra. O desfecho fora somente
deslocado: em certa passagem ela diz aquela frase a um soldado revoltado que
queria receber a sua recompensa e logo tem a sua rebeldia arrefecida. O conformismo
foi transposto e pretendeu, de modo provocador, instigar a reflexão: somos
menos revoltosos do que queríamos e mais obedientes do que supomos. Digna de
nota foi a resistência condescendente da plateia ao ter que levantar-se, e em
seguida, a prontidão com que se sentou.
Um homem com voz firme encarnou a Mãe; uma
moça franzina, o filho morto; homens altos, os soldados; uma moça maquiada, a
amiga. Com esses jogos de representação, ora fidedignos ora totalmente
destoantes das personagens, pretendemos evidenciar o "efeito de
distanciamento", tão característico da obra brechtiana. O efeito também
foi reforçado pela fala da Coragem, inusitadamente dirigida à plateia, a fim de
provocar uma reflexão e, quem sabe, uma proximidade com aquela mãe que ganha e
perde tudo na guerra. Colocariamo-nos contra aquela ordem? Colocamo-nos contra
alguma coisa? Qual é a medida do nosso sacrifício para simplesmente
sobrevivermos?
Afinal, o que queremos: que a guerra perdure
ou que a paz se instaure? Questões diretas, cujas respostas não nos são
imediatas, seja quando nos colocamos no lugar daquela mascate ou quando ela se
põe no nosso lugar. A Mãe Coragem não pede julgamento, tampouco compreensão:
pede que nos levantemos das cadeiras e nos sentemos apenas quando tivermos
cansados de lutar. E a primeira luta é contra nós mesmos, contra o conformismo
ou contra o inconformismo paralisado.
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