Edison Yammine n° USP 160649
Nicolò Pezzolo n° USP 7907081
Rolf Amaro Cardoso dos Santos n° USP 5679841
Teatro seminário referente ao texto Sobre o conceito de história de Walter Benjamin.
Fomos o primeiro grupo neste dia. A ordem era importante já que nossa apresentação começava com um anúncio: não iríamos fazer nenhum teatro-seminário. Nos dirigimos os três ao centro do círculo formado na sala logo após o intervalo e anunciamos a nossa renúncia, ao mesmo tempo em que mandávamos Nicòlo para um canto, distante de mim e de Edison.
Então veio a justificativa de tal ato: já que, como havia sido dito pouco antes, aquela seria a penúltima aula do curso, que acabaria antes do previsto, teria que ser feito naquele dia o manifesto contra a presença de estrangeiros na universidade pública. Havia tantos na faculdade que até entre nós, um grupo composto por três pessoas, um era estrangeiro. Expusemos à sala que eles estavam ocupando uma vaga que deveria ser de um irmão brasileiro. Não qualquer brasileiro, claro, mas um brasileiro “puro-sangue”, ou seja, filho de outros brasileiros (não naturalizados, claro). Alguém que honrasse as nossas tradições, nossos costumes, que falasse a Língua Portuguesa corretamente. Neste momento em que ocorria a argumentação, foi escolhido um aluno estrangeiro ao acaso, a quem foi pedido que repetisse a palavra “paralelepípedo” que, como esperado, não foi capaz de reproduzir a contento, o que foi utilizado pelo nosso grupo como prova evidente do quanto os nossos costumes brasileiros estavam em risco. Outra prova que levantava mais suspeitas sobre isso ser um movimento orquestrado contra o nosso querido país era o fato de o próprio professor ser americano, tendo confessado certa vez que tinha tentado mudar de nome, trocando o americano “John” por um tipicamente brasileiro puro “João”, não tendo conseguido alegando dificuldades em virtude da burocracia daqui – o que provavelmente foi um ato de defesa da pátria por parte do nosso serviço de inteligência, já provavelmente atento a essa invasão.
Uma vez conscientizada a sala, o colega Edison parou de escrever na lousa palavra FORA em vários idiomas e, atendendo a meu pedido, começou a chamar e conduzir estrangeiro por estrangeiro para o mesmo canto em que nosso colega Nicòlo se encontrava. A colega alemã, japonesa, a monitora colombiana, os colegas argentinos, o professor americano, todos estavam em uma área que foi delimitada por um risco de giz feito por Edison, momento em que eu declarei aos amigos que aquele era o momento da verdade, era chegada a hora de reagirmos em defesa da pureza da nossa cultura, que iríamos espalhar por toda a universidade esse que era uma verdadeira retomada do que pertencia ao Brasil. Então, quem fosse a nosso favor, estivesse do nosso lado, continuasse onde estava; já quem fosse a favor dos forasteiros e quisesse trair a pátria, melhor dizendo, ficar do lado deles, que fosse para o lado deles.
Esse foi o mote para que paralisássemos o tempo, fosse criada uma tensão embaraçosa por envolver um fato verídico – a presença de estrangeiros entre os alunos. Uma exacerbação que, de tão absurda, poderia ser verdade. Não deixa de ser curioso o fato de tal ato típico de país desenvolvido ser emulado por pessoas de um país que, apesar de estar em um momento de melhoras em suas condições de existência, tradicionalmente se viu como inferior, como não digno, que chega a ser contra a realização de grandes eventos como a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e as Olimpíadas em 2016 por não acreditar que tais eventos possam ser realizados pelo governo de forma correta. O escritor Nelson Rodrigues sintetizou tal sentimento apelidando de “complexo de vira-lata” essa inferioridade que o brasileiro se coloca em relação ao mundo. Sujeitos como esses que vão, na nossa apresentação, clamar por piedade em relação à pureza e ao tradicionalismo da cultura brasileira erigindo um monumento a ignorância com o mesmo material de que ela costuma ser feita: más informações mal manipuladas.
Os alunos, após serem expostos ao desafio da mesma forma que o mundo foi posto em relação ao terrorismo pelo ex-presidente George Walker Bush (ou se estaria a favor ou, automaticamente, estaria contra), foram massivamente para o lado dos colegas estrangeiros, nos impingindo uma grande derrota. Nesse momento o Brasil, simbolicamente, foi realmente salvaguardado.
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