11.6.12

Igreja Católica e Exército Nazista pedem carona à Mãe Coragem


Grupo 5: Maus Tratos Bons Trapos (sexta apresentação de TS), TS Noturno
Ana Carolina Candido
Érica Gibaja
Felipe Munhoz M. Fernandes
Heloisa Cardani
Isadora Biella
Pedro Paulo da Silva
Wagner Veillard

Referências: BRECHT, Bertold. 1991. “Mãe Coragem e seus filhos”. In: Teatro Completo 6. Rio de Janeiro: Paz e Terra. pp.171-266; ROSENFELD, Anatol. “O teatro épico de Brecht”. In: O teatro épico. São Paulo: Coleção Buriti, 1965. pp. 145-176.


Duas pessoas adentram o espaço cênico caminhando até seu centro e ajoelham-se, como se orassem em cumprimento a penitências. Após, um padre adentra o local e posta-se de frente para os dois fiéis. Benze-os, ao que os dois respondem com o sinal da cruz. O clérigo então ajoelha-se também, de costas para os fiéis, mas ainda à frente destes, ficando assim todos de frente para um suposto altar. Todos oram. Entra em cena, então, um general, Hitler, e coloca-se à frente dos três, em pé. Todos se levantam e fazem a saudação ao Reich, ao que este responde com um aceno. O padre retira-se da cena, e Hitler dá início a um discurso. Passados alguns instantes, ouvem-se gritos de “assino”, e o general se desconcerta. Neste momento, o padre reaparece e, ao perceber as acusações, um tanto atordoado, retira Hitler do centro da cena, leva-o para um canto e o esconde atrás de uma cortina. Depois retorna à frente dos fiéis e os benze novamente, dizendo: “vocês já se confessaram hoje?”. Os fiéis acenam negativamente, ajoelham-se e colocam-se novamente a orar, assim como o padre.

*

Na conversa realizada pelo grupo, mostrou-se predominante o interesse acerca da discussão de dois pontos, presentes em ambos os textos de referência, porém um de maneira direta e outro de modo um tanto subjetivo. O primeiro se refere à questão abordada por Brecht em muitas das peças de sua obra, e de maneira bastante explícita em Mãe coragem e seus filhos, qual seja, a das contradições cotidianas, às quais se pode dizer que estaríamos todos sujeitos. Tal questão é vista pelo autor sob viés fortemente crítico e como estando diretamente relacionada ao sistema de produção capitalista, ao qual se coloca marcadamente contrário.
O segundo ponto ao qual também nos centramos de maneira prevalecente foi a questão da história enquanto conteúdo moldado por grupos que se encontram em postos de dominação. Consideramos esta questão como subjetiva ou até teórica por não ser tratada diretamente no texto do autor, mas por termos identificado como perpassando-o. A identificação se deveu basicamente a dois incômodo que se nos foram gerados. O primeiro deles se liga a uma reflexão bastante próxima até da benjaminiana[1], visto trata, em certa medida, da história oficial, que é construída por atores que, diante de uma situação de conflito entre grupos – como é o caso de qualquer guerra, por exemplo, mas também da situação geral em que Brecht identifica estar imerso o sistema de produção capitalista –, saem vitoriosos.
Com relação a este ponto, entendemos que que o discurso não serve apenas para efetuar uma espécie de “registro glorioso”, mas também para perpetuar idéias e entendimentos gerais destinados a manter uma relação de domínio e poder. Segundo nossa compreensão a respeito da proposta de Brecht, seu teatro épico seria destinado a questionar justamente uma série de ideologias imputadas pelo sistema de produção capitalista da época. No entanto, e aqui reside o princípio de nosso segundo incômodo, parte do grupo entendeu, não sem alguma divergência com outra parcela, que a proposta do teatro brechtiano ao se moldar enquanto representante de uma alternativa às ideologias existentes não o faria sem algum nível de imposição similar ao sistema que critica no momento em que consideraria os ideais que defende como sendo mais corretos. Esta, no entanto, não foi uma questão levada a cabo, por termos preferido nos ater aos pontos mais concretos trabalhados pelo autor, afim de elaborar o Teatro Seminário, inclusive por uma questão do tempo disponível para fazê-lo.
Em nossa encenação, procuramos, por meio da representação de um fato histórico real, porém escuso, que foi a ligação entre a Igreja Católica e o Exército Nazista alemão, apresentar a contradição cotidiana que pode ser gerada por interesses os mais diversos possíveis. No caso, a dissimulação da Igreja a respeito de seu contato com o Exército Nazista depois deste ter sido execrado pela opinião pública mundial, a fim de não se ligar a tal imagem negativizada.



[1] BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas I: magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1985, p 222- 232.

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