16.5.12

Cena fúnebre

Performance da aula de  07/05: "Afirmação política: espetáculo e cerimônia", de Clifford Geertz. 
Grupo com os participantes: Alice, Bruna, Clayton, Herber, Leslie, Marco.

Dois trabalhadores sentam-se para comer suas marmitas. Seus olhares se dirigem a duas direções distintas mirando alguma situação enquanto comem. Ao olharem para a esquerda parecem vislumbrados com o espetáculo, suas expressões trazem olhares de admiração e espanto. O mesmo não acontece quando olham para a situação da direita, que provoca um sentimento de frustração e desgosto, não parecem gostar do que veem ali. Trocam poucas palavras um com o outro, apenas algumas exclamações de admiração ou assombro são proferidas. Um casal de trabalhadores chega e logo o silêncio dá alugar a uma série de comentários sobre as duas visões:
- Quantas coroas! Nunca vi coisa parecida! E quantas viúvas! É tudo mulher dele?
- Deve ser um figurão. Aponta outro
 - Nunca vi tanta gente assim junta, ele deveria ser querido....
- Você não sabe quem é? Não leu os jornais? Pergunta um dos recém-chegados.
- Não. Responde o primeiro.
Silêncio e admiração novamente.

- E aquele outro? Coitado! Nenhuma coroa, nem uma flor! Repara um dos operários
- Esse ai Morreu de frio, coitado! Acho que ninguém gostava dele! Observa outra.
- Era pobre. Diz com ar de desdém outro deles.

E logo os trabalhadores do cemitério começam a se retirar um a um, aparentemente acostumados com aquele espetáculo diário. Um deles se retira dizendo ser bobagem toda aquela encenação, que “morreu acabou”. Outro critica o péssimo hábito de se alimentar em frente ao velório. O último sai consternado pela morte do ilustre bicheiro, pois naquela noite sonhara com galo e, para sua infelicidade, não haveria jogo neste dia.
O grupo decidiu encenar a visão de dois rituais fúnebres distintos por acreditar que a cena ilustraria quão central é a posição social e o poder nos rituais da nossa sociedade, tal como ocorre no Negara. Partimos da ideia de que assim seria possível demonstrar as variações que ocorrem em nossos rituais em decorrência do lugar ocupado pelo sujeito na sociedade. Esta posição é demarcada durante todo o ritual, como, por exemplo, na enorme quantidade de coroas enviadas ao velório do “ilustre bicheiro”, figura que mesmo não possuindo um cargo ou título formal, possui uma posição destacada e influente em diversos lugares. Esta figura contrasta com a imagem do velório do indigente, que não contou com coroas de flores e tampouco pessoas presentes para “chorar seu morto. Assim vemos que, em nossa sociedade, a representação da hierarquia também é expressa em diversas performances e artifícios rituais, aqui representa pela “pomposidade” do ritual e pela quantidade de pessoas que se fez presente nos dois eventos.
Por fim, quanto à quantidade de ornamentos e pessoas presentes em cada situação ela é interpretada pelos trabalhadores como sinalizadores da posição social que ocupavam, assim, entendemos que a partir de pequenos indícios, fica claro o potencial que o ritual fúnebre tem de explicitar e reafirmar determinada organização social.

Nenhum comentário: