21.5.12

Lobato e a Meia Falante

Antropologia da Performance
Maus Tratos, Bons Trapos (segundo grupo a se apresentar - 14/5/12):

Ana Carolina Candido, Érica Gibaja, Felipe Munhoz M. Fernandes, Heloisa Cardani, Isadora Biella, Pedro Paulo da Silva e Wagner Veillard.
TS - 4 Noturno

Para a elaboração desta apresentação, iniciamos a discussão a respeito da figura do narrador e como uma mesma história pode ser contada de diferentes formas à medida que se muda o narrador. Baseamos a discussão no texto da aula, “Sobre o conceito de história” de Walter Benjamin, mas principalmente em um texto complementar, do mesmo autor, “O narrador”.
Ao longo da discussão tratamos alguns pontos. O primeiro foi em relação à questão de que cada vez mais os narradores estão se distanciando da atualidade viva. Os livros de romance fizeram com que a essência do narrador se perdesse. A sensação de se ler um livro é bem diferente do que a de escutar um narrador, que muda suas entonações de acordo com os acontecimentos da história, Benjamin coloca que “A tradição oral, patrimônio da poesia épica, tem uma natureza fundamentalmente distinta da que caracteriza o romance” (BENJAMIN, 1987). A narrativa de um romance se distingue de um narrador principalmente pelo fato de que o narrador retira de suas experiências, próprias ou relatadas por outros, o que ele conta.
Outro ponto discutido foi, que a forma como um narrador conta a história é item essencial para que a história seja um sucesso ou não. No texto, “O narrador”, Benjamin afirma que “(...) não se percebeu (...) até agora que a relação ingênua entre o ouvinte e o narrador é dominada pelo interesse em conservar o que foi narrado. (...)”. Ou seja, uma história vai continuar “viva” se os ouvintes quiserem, se eles se interessarem pelo que ouviram.
Na performance apresentada a ideia central era mostrar como crianças reagiam a histórias diferentes contadas, cada uma, por uma pessoa diferente. A proposta era justamente mostrar o que Benjamin coloca em ambos os textos, que a história e a narrativa estão relacionadas com o ponto de vista de quem conta, desta forma, a resposta dos ouvintes depende de como a história é contada. A cena teve dois momentos. No primeiro momento quem contou a história foi a professora das crianças, a história contada por ela era sobre um cágado que tinha ido a uma festa no céu e no caminho acabou caindo, depois da queda o seu casco passou a ter linhas de rachadura. Ao longo da história a professora foi questionada diversas vezes pelas crianças e na grande maioria não sabia o que responder. Algumas crianças se mostravam desinteressadas pela história e a professora não contava com nenhuma empolgação ou entonação.
Já no segundo momento quem conta uma história às crianças é um fantoche, a história contada é sobre um trecho do texto “O Narrador”.  O fantoche contou a história de forma empolgante e com entonações diferentes, de uma maneira animada e divertida, as crianças interagiram, concordaram e conversaram com ele, ficaram mais animadas com a história contada pelo fantoche do que pela professora.
Vimos que no primeiro momento, apesar da história contada ser um conto de fadas e pensando no contexto do universo infantil, as crianças não gostaram da história, demonstrado pelos questionamentos feitos à professora e falta de interesse, isto é justificado pela forma como a professora contou a história, sem nenhum tipo de empolgação ou entonação, ela não proporcionou à história algo que chamasse a atenção dos alunos e os fizessem interagir. Por sua vez, no segundo momento, o fantoche consegue atrair mais a atenção das crianças, elas interagem positivamente, concordam, estão mais motivadas. Isto ocorre, pois o fantoche, apesar de estar contando uma história complexa, de nível acadêmico, conta de uma forma que atrai as crianças, conta com empolgação, “o extraordinário e o miraculoso são narrados com a maior exatidão” (BENJAMIN, 1987), é isto que torna a narrativa mais interessante.
O contraste dos dois momentos deixa bem claro a ideia de que o interesse por uma história está na forma como é contada. E a proposta de que as crianças gostassem mais da história complexa do que um conto de fadas contribuiu para distinguir de forma bem clara, objetiva e, até mesmo, inovadora.
Na discussão ocorrida depois da cena, o principal tema discutido foi justamente este, as diferentes reações que as crianças tiveram com cada um dos contadores. Também foi discutido que o fato das crianças gostarem mais da história contada pelo fantoche pode demonstrar que, nos dias de hoje, as crianças prezam pelo discurso científico, pois este é mais próximo da realidade.
Além disso, um questionamento colocado pelo professor foi “de onde vem essa voz”, que no caso é o fantoche. No texto “Sobre o conceito de história”, Benjamin afirma que as nossas experiências, no mundo atual, estão fragmentadas, as vozes emudecidas do passado estão cada vez mais sendo esquecidas, “(...) a arte de narrar está definhando porque a sabedoria – o lado épico da verdade, está em extinção. (...)” (BENJAMIN, 1987). O fantoche pode ser visto com uma representação dessas vozes, a sua voz poética e criativa é um linguajar que já se perdeu. Por ser um linguajar poético e criativo, as entonações que se dá ao longo da história agradam as crianças.

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