22.5.12

A estrada e o progresso

Referência bibliográfica:
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. In: OBRAS escolhidas I – magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994.
Grupo com os participantes: Alice, Bruna, Clayton, Filomena, Herber, Leslie e Marco.

Descrição e análise da cena:

Entra a figura do político. Ele se apresenta frente a todos os outros e num gesto solene, lança a pedra fundamental da obra de construção de uma grande estrada.
O político se retira e começam-se as obras. Uma pessoa vai à frente dando ordens e o restante vai abrindo caminho entre as carteiras e pessoas que estão pelo caminho. Sem pedir licença, desalojam e forçam passagem entre as pessoas que são obrigadas a abrirem caminho, mesmo contra sua vontade, arrastando cadeiras e corpos, mudando toda a ordem na qual se mantinham. A pessoa que conduz a obra cobra rapidez e agilidade dos “operários” e justifica os transtornos com o argumento de ser esta uma “obra de interesse público”.
Os participantes admiram o corredor formado entre as carteiras, com o sentimento de “dever cumprido”. Obra finalizada. Entra o politico, faz discurso. Enaltece a finalização da estrada como um acontecimento que levará a nação ao progresso. É aplaudido com ênfase. Palmas a esta versão da história.
Esta pequena cena, apesar de fictícia faz alusão a situações reais que podemos observar nas grandes obras realizadas em nosso país como a construção de hidrelétricas, transposição de rios e obras viárias (construção de rodovias, metrô etc) onde milhares de pessoas são obrigadas a se realojarem de lugar devido, por exemplo, a desapropriação de terras para rotuladas como de “interesse público”.
Nessas situações a história daqueles que, como em nossa cena da construção de uma estrada, são impelidos “rumo ao progresso”, provavelmente não teriam espaço numa narrativa oficial, dada a concepção de história vigente. Os pequenos acontecimentos, e os ruídos de resistência e indignação frente a obra tampouco seriam escutados, perdidos numa narrativa histórica pautada nos grandes acontecimentos. Como nos diz Benjamin, caberia ao cronista cita-los em seus pormenores, sem distinguir entre os acontecimentos grandes e pequenos. Também queríamos demonstrar com esta cena que no fim, o que parece ficar registrado na história são os grandes acontecimentos políticos que tornaram possível aquele projeto, sem que as histórias e os infortúnios pelos quais as pessoas comuns passaram no dia-a-dia sejam lembrados.
Por fim, a noção de progresso, expressa nas falas durante a cena, parece justificar todo o acontecimento e passar por cima desses infortúnios, é como se essa fé no progresso, visto como uma norma histórica, tornasse a vida daqueles que são oprimidos um eterno “estado de exceção”, sendo necessário, segundo Benjamin, que se crie um novo conceito de história que corresponda a essa realidade.

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