Teatro Seminário referente ao texto Dewey, Dilthey e drama: um ensaio em antropologia da experiência.
A luz acesa novamente marca o início da encenação, que devolve a sala à sua condição natural (iluminada, propiciando a visibilidade que se espera de um espaço com amplas janelas em uma tarde de quinta feira de outono), mostra uma cena não menos ordinária: uma pessoa levantando do chão, indicando o fim de um período de sono.
Nico deixa de se tornar incógnito em uma sequência que diria muito pouco a quem o acompanhasse em seu proceder ao repetir, incessantemente, uma espécie de mantra composto exclusivamente pelo número dezoito. Dito desde o primeiro momento em que ele acorda, a fala acompanha seus movimentos pela sala, que param pela primeira vez quando ele toma um café. Pede um café, o que faz com que o atendimento leve mais tempo do que deveria. O atendente estranha aquela aparente fixação pelo número e não entende o que aquilo quer dizer. A corrente sem fim do numeral o atrai, ele abandona seu posto de trabalho, o estado de tensão em que se encontra a partir deste encontro. Pula o balcão de onde trabalha e começa a seguir Nico por onde ele vai desde que terminou o café corto. Segue-o de perto, indeciso em continuar seguindo ou tomar a coragem de fazer a pergunta que muitos já queriam fazer: a que se referia aquele número?
A perseguição continua, o balconista Rolf não encontra muitas brechas para abordar Nico, que não abre espaço para o diálogo, a não ser para fazer perguntas que não vão além daquelas referentes a itinerários de ônibus que ele precisa tomar ou para pedir um cigarro. Quando entram no elevador de um edifício, o ascensorista acaba com a última possibilidade de significado possível para o que Nico dizia. Tão logo ouviu o número dezoito, Edison informa que aquele prédio não tinha tantos andares., somente quinze. Neste ponto, Rolf não aguenta mais, segura com as duas mãos aquele que o tirou de seus afazeres e grita, exasperado:
- O que você quer dizer com dezoito? O quê?
- Dezenove pessoas que não cuidam de suas vidas!!!!! Agora são dezenove. Dezenove, dezenove, dezenove, dezenove...
O ruído que atravessa a cena, a repetição do número pelo personagem nas mais variadas situações (inclusive conversando), é um incômodo tal que conseguiu prender a atenção dos colegas presentes, a ponto de provocar o riso generalizado quando ocorreu o desfecho. Eis aí uma experiência que interrompe o comportamento rotinizado e repetitivo. Rolf procura relacionar a "preocupante experiência atual com os resultados cumulativos de experiências passadas - se não semelhantes, pelo menos relevantes e de potência correspondente - que emerge o tipo de estrutura relacional chamada significado", e não o consegue, e é também isso, a busca de um novo significado, que o leva a perseguir Nico. Pode-se dizer que Rolf teve "uma experiência", que se destaca "da uniformidade da passagem das horas e dos anos e forma uma estrutura de 'experiência', que não tem um início ou um fim arbitrários, recortados do fluxo da temporalidade cronológica, mas tem uma 'iniciação e uma consumação'". E o inesperado e o imprevisível marcam presença através da relevância que há na simplicidade do cotidiano, muitas vezes imperceptível para o citadino.
Edison Yammine 160649, Rolf Amaro Cardoso dos Santos 5679841, Nicolò Pezzolo 7907081 - Antropologia da Performance - vespertino - 5ª feira
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