Benjamin, Walter. "Sobre o conceito da História". In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura; trad. Sérgio Paulo Rouanet - 7. ed. - São Paulo: Brasiliense, 1994. - (Obras escolhidas, v.1).
Grupo kr²
Allan Levorato
Carolina Mazzarielo
Felipe Torres
Glaúcia Veith
Larissa L. de Barcellos
Kaio Rafael
Kleyton Rogério
Mariana Vieira
Do texto-referência destacamos trechos que serviram de mote para a nossa apresentação: "nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie. E, assim como a cultura não é isenta de barbárie, não o é, tampouco, o processo de transmissão da cultura". Na discussão mais geral sobre a História, que acaba por contar, até por haver uma relação de empatia do pesquisador, a história dos vencedores, esse excerto é emblemático, tal como esta passagem: "todos os que até hoje venceram participam do cortejo triunfal, em que os dominadores de hoje espezinham os corpos dos que estão prostrados no chão" (ambos da p. 225).
As ideias ventiladas são poderosas e precisariam de uma representação à altura, só lamentamos a nossa falta de pendor dramático. Para compensá-lo, valemo-nos de um objeto cênico quase tão poderoso quanto e com significados muitos (além de sua serventia e aparente proposta): o dicionário. Soerguido como troféu, deslocado de sua função primeva, passou a representar a linguagem oficial, caudalosa, que tornou silente tantas outras linguagens e culturas. No rastilho de sua publicação, podemos ver a barbárie e os prostrados.
Porém somente detectar o problema seria pouco brechtiano e Benjamin o citara logo ali, enfim, não queríamos uma apresentação somente diagnosticadora. Por isso aquele que matou os passeadores com o dicionário se tornou uma estátua de si mesmo, um totem da vitória e dos vencedores e logo ali estavam os corpos prostrados que, após um apagar e acender de luzes, se ergueram, como mortos-vivos ou vivos-mortos, e deram a um cachecol outro significado (a polissemia estava muito presente): o de arma letal que, envolta no pescoço daquele que outrora os matara, o levou ao mesmo chão. As luzes se apagam. Com a audição aguçada todos começam a ouvir "de tanto levar frechada do teu olhar meu peito até parece sabe o quê?, táubua, de tiro ao álvaro, não tem mais onde furar". A linguagem pretrificada, cristalizada, cedeu ao dinamismo da cultura. Ainda que os vencedores sejam destacados na História, não podemos subestimar o papel e a força das histórias: os corpos caídos no chão fazem tão parte do cortejo quanto os espezinhadores e não devemos nos espantar quando for chegado o dia em que eles alterarão o curso da marcha triunfal.
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