9.5.12

O Grito

Um grito gutural. Um ato súbito, repentino, o inesperado. É impressionante como a quebra do fluxo cotidiano pode nos remeter a sensações submersas no inconsciente humano.
Como uma tentativa de desmaquinização dos presentes, a ideia do grito surgiu como uma quebra sonora e física do percurso estabelecido. Ao discutirmos as reflexões que o texto levantou em cada um/a do grupo, as ideias giraram em torno dos movimentos limitados que utilizamos e como era possível quebrar esse vício corporal que construímos, e constroem na gente, à partir do momento em que nascemos. Nós perguntamos: “O que nos faz sair desta delimitação corporal, desta determinação social da movimentação física”? Concluimos que este desencadeamento acontece por exemplo quando tropeçamos ou quando nos assustamos.  
Decidimos nos apropriar do susto para provocar um desencadeamento da rotina da aula. Foi por este motivo que combinamos não cumprir com o acordo de apresentar a performance na segunda parte da aula, mas sim de quebrar com os padrões estabelecidos querendo provocar uma reflexão sobre as mesmas.
O ato é o seguinte: No meio de uma aula normal na Universidade de São Paulo alunos/as e professores/as interpretam seus papéis corriqueiros. Há uma quebra na expectativa do status quo ocasionada por um grito. Uma intervenção programada por um grupo de alunos/as que atingem um uníssono no grito. Alunos/as e professor se defrontam com um choque na percepção.
A reação: pessoas gritam assustadas, pensam em sair correndo, se preparam para tudo, pensam ser um desastre. Porém todos/as permanecem em seu lugar. A sala ficou paralizada.
Depois do silêncio, a distenção: Todos/as começaram a rir.
O que provocou nossa performance nas pessoas? Ela conseguiu mudar a dinâmica do curso e criar um clima mais informal na sala. Além disso, evocou varias reflexões nos presentes que sentiram a necessidade de compartilhar suas dúvidas:
“Na hora do grito me perguntei: Que faço? Grito também? Chingo? Mais fiquei em silêncio. Pois, estou dentro de uma máscara maior que me prende”. Outa aluna refletiu: “Cheguei aqui como estudante, quando me sento na cadeira dobro minhas pernas assim, seguro a caneta assim...e agora depois do grito me pergunto: Contiunuo assim?”
Nossa intervenção não só suscitou uma grande confusão em nossa sala, senão também  paralizou a sala ao lado. Ficamos sabendo que estes alunos/as pensaram em várias possibilidades do porquê do grito e de como reagir ao mesmo, pensaram que fora algo sério, preocupante, e quiser ver se estava tudo bem, após ouvirem as risadas discutiram em sua sala a possibilidade de gritar de volta como uma réplica ou uma provocação. Durante o interválo as pessoas dialogavam sobre as mais diversas hipóteses causadoras e as impressionantes reações ao grito.
O interessante deste ato tão simples são suas reflexões, reverberações e revelações que estas experiências nos trazem pois estes estímulos do inesperado agem no profundo e no instintivo da psique humana.

Grupo PerformArte
Agatha Barbosa, Bruna Amaro, Fabio Alex Silva, Isadora Do Val, Maren Michaelsen, Theodoro Condeixa (todxs presentes na apresentação).

Texto de Referência: MAUSS, Marcel. "As técnicas do corpo" e "Uma categoria do
espírito humano: a noção de pessoa, a de 'eu'". In: Sociologia e antropologia.
São Paulo: CosacNaify, 2003.

Data da postagem: 09.05.2012

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